A marca Portugal depois das Jornadas

Por Salvador da Cunha (CEO da Lift e Fundador do Reputation Circle)

Falar sobre o impacto das Jornadas Mundiais da Juventude vai muito além da dimensão religiosa do evento. E uma coisa é certa, há um antes e depois na imagem e reputação da Igreja, mas também na imagem e reputação de Portugal como marca.

As Jornadas Mundiais da Juventude constituíram uma oportunidade única para reforçar a vitalidade e a capacidade de mobilização da Igreja Católica, num momento absolutamente crítico para a sua imagem e reputação. Isso é indiscutível, com os cerca de 1.5 milhões de peregrinos a provarem-no. Mas, acima de tudo, a Igreja soube agarrar esta oportunidade com mestria, trazendo a Inclusão para o centro da comunicação, com o Papa Francisco a afirmar “A Igreja é de todos, todos, todos.” Uma mensagem que ressuou e marcou todo o evento, aproximando crentes e não crentes. O discurso do Papa, humanizado, simples e por vezes improvisado, e a forma como abordou e relacionou temas como a responsabilidade sobre as alterações climáticas, o elitismo, o consumo, as migrações e o dever de ajudar os mais fragilizados, passando por temas controversos como os abusos sexuais na Igreja, a eutanásia e o aborto, mostraram uma nova Igreja. Uma Igreja que se quer mais próxima, mais atual, que pretende desprender-se do “imobilismo” e que é convidada por Francisco a “passar à ação sem medo”. Mas é também o retrato de um líder carismático, cuja visão, liderança e empatia têm a capacidade de mobilizar e unificar. É este o impacto que um líder, seja ele de uma instituição como a Igreja Católica, de uma empresa ou marca, tem na consolidação e valorização da reputação.

Mas não foi só a imagem e reputação da Igreja Católica que saíram reforçadas. Também a imagem, reputação e força de Portugal, como marca, beneficiaram globalmente do momento. E não falo apenas do ponto de vista de projeção externa e mediática. Falo também na confiança renovada que enquanto Portugueses precisávamos. De sabermos que somos capazes. Se os momentos que precederam o evento foram vividos com enorme ceticismo por grande parte dos portugueses, promotores, analistas, comentadores, detratores, quanto à capacidade de organizarmos um evento com esta magnitude, esse ceticismo deu lugar à certeza de que superámos expectativas. Não fizemos apenas, fizemos bem. Mostrámos a nossa capacidade de liderança ao mais alto nível, nas áreas da segurança e saúde, no teatro das operações. Afirmámos e confirmámos a capacidade que Portugal tem de organizar grandes eventos internacionais, o que já não acontecia com alguma dimensão desde o mundial de 2004 ou da EXPO’98. Mas nunca com esta escala. Afirmámos a nossa hospitalidade enquanto povo, a boa gastronomia e condições de vida que Portugal reúne. Mostrámos que somos capazes de receber uma enorme quantidade de peregrinos, mantendo a cidade de Lisboa funcional para quem cá vive e também para os turistas que nos visitam. Mostrámos que somos muito mais do que a imagem de um destino de verão, de sol, praia, golf ou surf. Alguns, é certo, continuarão a questionar os investimentos feitos em infraestruturas, a necessária reabilitação de outras áreas urbanas esquecidas, do apoio aos sem abrigo e de tantas outras coisas, mas uma coisa é certa: as Jornadas Mundiais da Juventude fizeram mexer a economia, com um impacto global estimado entre 411 e 564 milhões de euros (dados do estudo realizado pela PwC) e colocaram Portugal nas bocas do mundo. Pela sua capacidade de inovação e organizativa, naquelas que já foram referidas pelo Vaticano como as melhores Jornadas Mundiais da Juventude realizadas até aos dias de hoje. Pela incrível mobilização humana, pela energia e alegria que se viveu em Lisboa por estes dias, pelos milhões de publicações que invadiram as redes sociais, pelas partilhas orgânicas que promoveram todo o Portugal, pelas muitas notícias na web à escala global. E isso diz muito do país que acolhe a iniciativa. Diz muito de Portugal.

Mas da mesma forma que a Igreja não pode ficar presa ao imobilismo, cabe-nos a nós, portugueses, governo, autarquias e a todas as entidades que tiveram responsabilidade na organização deste momento, continuar a investir na evolução e projeção de Portugal, trabalhando ativamente, e de forma consolidada no tempo, o seu ativo mais valioso: a sua reputação, em todas as suas dimensões. Estas, quando se fala de um país, são a ética e responsabilidade, nível de desenvolvimento, qualidade de vida, qualidade institucional e fator humano.

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